Maria Inês Portugal
Perguntaram-me desde quando eu escrevia assim. Não entendi bem o que queriam dizer com o “assim”. Assim como? Assim, feio? Assim bonito? Talvez moderno? Pode ser antiquado? Claro! Truncado...
Na dúvida joguei a culpa nos ombros de outrem.
Confessei sobre os bons professores. Ensinavam de verdade, com responsabilidade.
E exemplifiquei com o professor de português e latim da Escola Normal Dermeval
Moura de Almeida. Nunca esqueci as angústias das segundas-feiras: “em meia
hora, tema da redação: O Poste”.
Sua benção, Professor Doutor
Sebastião Trogo! Dê-me sua licença para compartilhar esta pérola. Guardei-a por
50 anos em um caderno de adolescência. Você compôs este poema para o Grêmio do
Colégio.
Rio Preto
S. Trogo, 15\07\1963
Se houvesse neste mundo uma cidade
de pastores,
Ela seria entre montanhas a se
mirarem num rio.
Mas este rio, por discrição,
escureceria suas águas.
Se neste mundo houvesse uma cidade
feliz,
Ela seria pequena, com duas ruas que
se cortassem em cruz,
Uma rua larga e outra direita...
Se neste mundo houvesse uma cidade
compreensiva,
Seus telefones não teriam número e
nem seriam automáticos.
“Alô telefonista eu quero falar com
o Sô Vigário”.
“Alô telefonista chame o Dr Juca pra
mim”.
“Alô telefonista,vê se o Sombra tá
na praça
e mande trazer uma carroça de areia
pra mim.
Uma cidade feliz teria um homem
que dá banho nos mortos,
que encomenda caixão
que distribui contas
e vai ao Rio levar minha tia pra
consultar.
(e o que é pior, foi aduaneiro
durante
trinta anos e nunca levou bola...)
Uma cidade feliz viveria das coisas
simples da vida:
engordaria seu rebanho,
exportaria seu leite, ensinaria seus
filhos
e os mandaria ser famosos
nas cidades grandes e infelizes...
Epa, eu conheço esse lugar...
ResponderExcluirLindo!
Que bela homenagem a uma pequena cidade que eu tb conheço. Singela e profunda, como seu Rio
ResponderExcluirquase Preto....Sonia Lafoz
Preciosidade!
ResponderExcluir