quinta-feira, 21 de novembro de 2013



Preciosidades de um Caderno de Recordações



Maria Inês Portugal



              Perguntaram-me desde quando eu escrevia assim. Não entendi bem o que queriam dizer com o “assim”. Assim como? Assim, feio? Assim bonito? Talvez moderno? Pode ser antiquado? Claro! Truncado...
               Na dúvida joguei a culpa nos ombros de outrem. Confessei sobre os bons professores. Ensinavam de verdade, com responsabilidade. E exemplifiquei com o professor de português e latim da Escola Normal Dermeval Moura de Almeida. Nunca esqueci as angústias das segundas-feiras: “em meia hora, tema da redação: O Poste”.
            Sua benção, Professor Doutor Sebastião Trogo! Dê-me sua licença para compartilhar esta pérola. Guardei-a por 50 anos em um caderno de adolescência. Você compôs este poema para o Grêmio do Colégio.
Lembra-se?


    Rio Preto

S. Trogo, 15\07\1963


Se houvesse neste mundo uma cidade de pastores,
Ela seria entre montanhas a se mirarem num rio.
Mas este rio, por discrição, escureceria suas águas.

Se neste mundo houvesse uma cidade feliz,
Ela seria pequena, com duas ruas que se cortassem em cruz,
Uma rua larga e outra direita...

Se neste mundo houvesse uma cidade compreensiva,
Seus telefones não teriam número e nem seriam automáticos.

“Alô telefonista eu quero falar com o Sô Vigário”.
“Alô telefonista chame o Dr Juca pra mim”.
“Alô telefonista,vê se o Sombra tá na praça
e mande trazer uma carroça de areia pra mim.

Uma cidade feliz teria um homem
que dá banho nos mortos,
que encomenda caixão
que distribui contas
e vai ao Rio levar minha tia pra consultar.
(e o que é pior, foi aduaneiro durante
trinta anos e nunca levou bola...)

Uma cidade feliz viveria das coisas simples da vida:
engordaria seu rebanho,
exportaria seu leite, ensinaria seus filhos
e os mandaria ser famosos
nas cidades grandes e infelizes...     


              

3 comentários:

  1. Epa, eu conheço esse lugar...
    Lindo!

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  2. Que bela homenagem a uma pequena cidade que eu tb conheço. Singela e profunda, como seu Rio
    quase Preto....Sonia Lafoz

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