Eu sempre tive uma relação de medo diante do rio Preto. A aparente
tranquilidade das águas turvas, a delicadeza dos ruídos das águas lambendo as
margens nunca me esconderam inimagináveis ameaças forjadas na infância,
habitantes das profundezas do velho rio.
A periodicidade de sua enchente e a frequência de afogamentos
assombrava-me. Hermínio, o casal de namorados – tantos foram os meus amigos que
desapareceram na aparente candura daquelas águas. Em minha família o medo do
rio é constante: cresci vendo meu avô debulhando o Rosário na esperança que
Nossa Senhora intercedesse no movimento das águas invadindo seu quintal,
ameaçando sua casa e sua família.