A fonte das mulheres
Maria Inês Portugal
Título curioso. Sugestivo.
Estimulante. Lembra origem, começo. Nascedouro ... de mulheres?
“A Fonte das Mulheres” é o filme apresentado e saboreado pelo grupo
de psicanalistas, psicólogos e afins, no Evento:
Cinema e Psicanálise, no dia 28 de setembro, no Auditório do Colégio SEPAM –
(http://eventocinemaepsicanalise.wordpress.com/ )
à Rua Santos Dumont esquina com Tiradentes
em Ponta Grossa-PR.
Direção, Roteiro e Produção do
filme é do romeno naturalizado francês Radu
Mihaileanu, um especialista em história de destinos trágicos, ou melhor, no
trágico destino da condição humana. O tema em discussão buscaria respostas para
a famosa pergunta de Freud: AFINAL, O QUE QUEREM AS MULHERES? Nas intervenções Celio Pinheiro e Sara
Soriano – Psicanalistas e responsáveis pelo Evento, trouxeram Lacan, Bourdieu, Collete
Soler, dentre outros.
E que filme!!!! bonito, alegre, inteligente, instigante!!!
Alegórico. É fábula? Metáfora?
Chego a sentir pena dos que
não puderam estar lá nesta deliciosa tarde de sábado.
Um cenário de uma aldeia
qualquer em uma região montanhosa do norte da África. Clima desértico. Mesmo
sob seca tão severa, a vida prossegue por um fio, no limite até o limiar de um
vale. O ocre do Saara só é quebrado pelo colorido dos tecidos, o brilho das
bijuterias femininas e o sorriso das jovens prenhes de vida. Sorriem muito, apesar
de tudo...
Nas primeiras cenas, as duras
pedras, (res)secadas contrapõem-se à água refrescante, vital da única fonte. A vida vem dessa sutil
contradição. Em uma aldeia ou...
Um bebê nasce no momento exato da morte de outro.
Entre oposições a vida segue seu curso. O som deste espetáculo vivido por
aldeões quase esquecidos do mundo, traz a musicalidade da cultura árabe,
carregada de poesia e da sensualidade, marcas de uma tradição forjada por
sofrimentos milenares.
Se revisitamos Hegel na
“Filosofia da História”, nos lembramos de que desde há muito, a água está na origem
dos conflitos humanos fundamentais por organização e sobrevivência das
sociedades. No percurso dos fios d´água as histórias acontecem desde sempre. O Yang Tsé, o Tigre, o Eufrates, o Nilo, o
Tâmisa, o Reno e o Sena e, porque não o Iguaçu ou o Preto? Os homens e as pedras por séculos se batem
por domar estas águas que continuam correndo, trânsfugas. ...em qualquer parte
do planeta.
“A água traz a vida.
A água carrega a vida.”
A temática é a condição
humana. O filme contém: do ríspido autoritário, masculino, ao dar a vida a um
bebê; do tradicional da aldeia ao sofisticado mundo tecnológico; do casamento
sem amor ao aumento dos custos com a alfabetização feminina; das perdas e
ganhos; do passado e do futuro; Conflitos, contrastes, confrontos, con...
contenção, convivência.
Entre ambivalências a fêmea rebelde busca seu
destino. Assim como as pedras limitam os caminhos das águas, os homens insistem
em estabelecer as margens para as águas e para as mulheres. É o seco e o
molhado na construção da vida na terra. E...
-O que
procuram os homens em Marte?
Expresso e
sentido como em um poema árabe, as mulheres proclamam:
-
“A vergonha silencia as línguas,
Para que não exprimam a tragédia
As lágrimas negras inundam o solo sedento.
Nossa terra é seca,
Eis a tragédia.”
Numa conversa entre passado e
presente vamos conviver com... Aristófanes, 400 anos antes de Cristo. O filme
recria no enredo a estrutura do teatro grego de “Lisístrata”- a greve do sexo. Em Atenas as mulheres propuseram a greve como
único meio disponível de obrigar os homens a acabar com as intermináveis
guerras que dizimavam seus maridos e filhos.
A peça de Aristófanes remete a
um dos mais trágicos aspectos das relações humanas e é tida por historiadores e
estudiosos da arte como comédia. – Pedreira!
Numa leitura comparativa entre
as duas obras, o teatro grego e o cinema, somos levados a pensar numa outra perspectiva do trágico: o
que mudou ou o que evoluiu nos últimos 2
500 anos de cultura ocidental e cristã neste assunto de sexualidade? Por detrás
das frivolidades femininas no filme, as pedras que margeiam pouco se movem por
séculos. A Arte e a beleza escondem tão bem a tragédia da condição feminina! Se
não, o que explica a ausência de uma resposta eficiente a Freud?
“Afinal, o que querem as mulheres?”
...e o coro das
aldeãs dança e reflete poeticamente:
“Alá! Tenha piedade de mim e de meus
semelhantes.
Glória a beleza!
Eu coloquei meu amor na balança da vida.
Glória a beleza!
As pessoas se acotovelam felizes, mas quem
pesará minha paixão?
Glória a beleza!
Meus filhos, pilastras de meu trono me
completam.
Glória a beleza!
Quando meus ombros enfraquecerem, meus
filhos os sustentarão!
Glória a beleza!
Aqueles que tiverem um filho não terão o que
temer
Glória a beleza!
O homem é o pilar da casa e eu,
Eu sou...”
E, (como ousadia e caldo de
galinha nem sempre fazem mal a alguém:)
Somos apenas humanas
demasiadamente humanas ou humanofêmeas,
se assim o desejarem.
Quem nos fantasiou de enigma?
Que trate de decifrar! E,
... uma jovem canta delicadamente no final do espetáculo:
“A terra disse não pode dar vida sem água.
A divina fonte das mulheres, não é a água.
A fonte das mulheres é o amor.”
“,,,a paz não nos assusta.”
Leila
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